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Vocação ou Desejo: O que te move na sua carreira? Por que você escolheu sua profissão?

A escolha de uma carreira profissional é uma das decisões mais importantes e desafiadoras da vida. Envolve não apenas habilidades e oportunidades, mas também uma reflexão profunda sobre motivações internas. Afinal, o que move alguém a seguir determinado caminho: uma vocação ou um desejo? Embora esses conceitos pareçam semelhantes, compreendê-los pode ser a chave para encontrar realização e propósito no trabalho.


Vocação e Desejo: Entendendo as Diferenças


A busca por entender o que nos move profissionalmente atravessa séculos de reflexão filosófica e permanece extremamente atual. Afinal, estamos seguindo uma vocação genuína ou apenas um desejo momentâneo? Essa pergunta, aparentemente simples, tem respostas complexas e diversas — da filosofia clássica à realidade do mercado de trabalho contemporâneo.


Vocação: O Chamado Interior


A vocação é frequentemente descrita como um chamado interior, uma espécie de propósito quase intuitivo. Trata-se de uma atividade que faz sentido por si só, mesmo quando exige esforço ou sacrifício. Pessoas que vivem sua vocação costumam relatar que sua escolha profissional é uma extensão natural de quem são, como se aquela ocupação sempre tivesse feito parte delas. É o caso de um professor que, desde pequeno, organizava "aulinhas" para os amigos, ou de um médico que enxerga sua profissão como uma missão de cuidado.


Essa ideia de vocação tem raízes filosóficas antigas. Sócrates e Platão, por exemplo, acreditavam que o autoconhecimento era fundamental para encontrar o verdadeiro papel de cada um na vida. Para eles, seguir a própria aretê (excelência) significava viver de acordo com a própria natureza. Já Aristóteles via na eudaimonia — a realização plena — o fim maior da existência, alcançado quando desenvolvemos nossas virtudes e talentos. Mais tarde, na tradição cristã, Santo Agostinho reforçaria a noção de vocação como um chamado divino, defendendo que o ser humano só encontra paz verdadeira ao responder a esse chamado superior.


Desejo: A Força da Vontade Consciente


O desejo, por outro lado, nasce de aspirações mais conscientes e, muitas vezes, mais racionais. Ele pode estar ligado a fatores como prestígio, estabilidade financeira, curiosidade intelectual ou influência familiar. Nesse caso, a escolha profissional se dá menos por um sentimento profundo e mais por metas específicas e tangíveis. Por exemplo, alguém pode optar pelo curso de Direito por admirar o prestígio da carreira jurídica, mesmo sem sentir uma conexão emocional com as leis ou com a prática do direito.


Na filosofia moderna, o desejo ganha novos contornos. Nietzsche o vê como expressão da vontade de potência — uma força vital que impulsiona o indivíduo à superação e à criação de si mesmo. Nessa perspectiva, a vocação não é algo pré-determinado, mas sim algo a ser construído por meio da afirmação do desejo e da liberdade. Kierkegaard, em uma abordagem existencialista, também valoriza a escolha pessoal como essencial: a vocação verdadeira nasce quando escolhemos a nós mesmos com autenticidade e coragem.


O sociólogo Max Weber, ao tratar da vocação no contexto do trabalho, introduz uma perspectiva ética: para ele, vocação é o exercício disciplinado de uma profissão como expressão de um dever moral. Aqui, o desejo precisa ser controlado e colocado a serviço de um propósito produtivo e socialmente valorizado. Por sua vez, Simone de Beauvoir questiona a ideia de vocação como destino imposto. Para ela, muitas mulheres foram levadas a acreditar que nasceram para certos papéis, quando, na verdade, estavam apenas respondendo a desejos construídos socialmente. A vocação só é legítima, segundo Beauvoir, quando é fruto de uma escolha livre e consciente.


Unindo as Perspectivas


Diante dessas visões, é possível entender que vocação e desejo não são forças opostas, mas dimensões diferentes da escolha profissional e existencial. A vocação tende a ser mais profunda, conectada ao sentido e à identidade; o desejo, por sua vez, pode ser uma força inicial, uma motivação concreta que nos leva a agir. Ambos podem coexistir — e, idealmente, se alinhar.


O desafio é distinguir se o caminho que seguimos reflete quem somos de verdade ou apenas o que queremos momentaneamente. Compreender essa diferença é um passo importante não só para uma carreira mais satisfatória, mas também para uma vida mais coerente com nossos valores e potenciais.


Como Identificar o que Move Você?


Identificar o que verdadeiramente motiva sua trajetória profissional exige um mergulho sincero em perguntas que revelam as raízes das suas escolhas. Comece refletindo sobre a vocação: aquela energia que persiste mesmo nos dias mais desafiadores. Se, ao final de uma jornada cansativa, você ainda sente um impulso interno para seguir adiante, como se o trabalho fosse mais que uma obrigação, pode ser um sinal de que está conectado a um propósito maior.


Outro aspecto crucial é analisar se a profissão ressoa com seus valores pessoais — aquilo que você considera justo, significativo ou essencial para sua existência. Imagine, por exemplo, um ambientalista que encontra sentido em proteger a natureza, mesmo diante de obstáculos burocráticos. Por fim, pergunte-se se continuaria nessa área caso o reconhecimento e os salários desaparecessem ou diminuíssem. A resposta honesta a essa questão expõe se sua motivação é intrínseca ou depende de recompensas externas.


Por outro lado, ao explorar o desejo, é preciso encarar as ambições mais pragmáticas. Questione-se: sua principal força motriz está em conquistar estabilidade financeira, status ou poder? Há uma diferença sutil entre admirar o sucesso material e permitir que ele defina completamente suas escolhas.


Reflita também sobre as influências que moldaram sua decisão profissional. Foi uma pressão familiar, uma tendência de mercado ou a busca por aprovação social que o levou até aqui? E, de maneira ainda mais reveladora, pondere: se surgisse uma oportunidade mais rentável em outra área, você abandonaria sua atual carreira sem hesitar? Essa pergunta desvenda se seu compromisso está com a atividade em si ou com os benefícios que ela proporciona.


Essa autoanálise não precisa resultar em respostas definitivas, mas em insights que esclarecem se você está seguindo um chamado interior, uma estratégia consciente — ou uma combinação dos dois. O importante é reconhecer que tanto a vocação quanto o desejo são válidos, desde que alinhados a uma escolha autêntica. Afinal, não há julgamento em priorizar segurança financeira ou em buscar um legado, mas há risco em ignorar o que realmente move sua alma. A clareza sobre suas motivações é o primeiro passo para construir uma carreira que não apenas sustente sua vida, mas também a preencha de significado.


É possível alinhar Vocação e Desejo?


Sim! Muitas pessoas encontram equilíbrio ao unir paixão e pragmatismo. Por exemplo, um engenheiro apaixonado por tecnologia (vocação) que também busca inovar em uma startup de sucesso (desejo por impacto e retorno financeiro) ou um artista que transforma seu talento (vocação) em um negócio sustentável (desejo), conciliando criação e mercado.


O desafio está em não ignorar nenhum dos dois lados. Priorizar apenas a vocação pode levar a frustrações práticas (como falta de recursos), enquanto focar só no desejo pode esvaziar o trabalho de significado.


Sinais de que você precisa repensar sua Carreira


Reconhecer quando é hora de repensar sua trajetória profissional pode ser crucial para evitar estagnação ou insatisfação prolongada. Um dos sinais mais evidentes é o desgaste constante: aquela exaustão crônica que persiste mesmo quando há sucesso aparente, como conquistas financeiras ou reconhecimento externo. Se o trabalho parece sugar sua energia vital, sem devolver qualquer senso de realização, é um alerta.


Outro indicador é a inveja de outras áreas, quando você se pega idealizando rotinas ou profissões completamente diferentes da sua, imaginando como seria mais gratificante atuar em outro contexto.


Por fim, a falta de crescimento é um sinal claro: a sensação de que está apenas seguindo uma rotina mecânica, sem desafios ou evolução pessoal, como se estivesse “cumprindo tabela” sem um propósito claro.


Como Encontrar seu Caminho?


Para redescobrir uma trajetória profissional alinhada aos seus anseios, é essencial começar pelo autoconhecimento. Ferramentas como testes de perfil e a prática de diários de reflexão ajudam a identificar inclinações naturais e valores que podem estar adormecidos. Em seguida, a experimentação é fundamental: cursos livres, voluntariado ou projetos paralelos funcionam como laboratórios para explorar habilidades e paixões que nunca foram levadas a sério.


Outro passo valioso é buscar mentoria, coaching ou conversar com profissionais experientes de áreas que despertam seu interesse. Essas trocas oferecem insights reais sobre desafios, rotinas e oportunidades, ajudando a desmistificar caminhos.


Por fim, é vital abraçar a flexibilidade: entender que carreiras não são lineares e que mudar de rumo, seja aos 30, 40 ou 50 anos, não é um fracasso, mas um ato de coragem para priorizar sua satisfação e crescimento. A jornada profissional é feita de reinvenções — e cada passo, mesmo que em outra direção, é parte da construção de uma história mais autêntica.


Conclusão


Ter vocação ou desejo não é uma questão de superioridade, mas de autenticidade. O importante é que sua escolha seja consciente e revisada periodicamente. Afinal, carreiras são jornadas dinâmicas — e é permitido (re)descobrir-se no caminho.


Reflita: Se o dinheiro e a opinião alheia não importassem, o que você faria? A resposta pode ser o primeiro passo para uma vida profissional mais plena.

Em meio à dúvida entre seguir uma vocação ou um desejo prático, a RHEIS Consulting apoia sua trajetória profissional. Atuamos com mapeamento pessoal e desenvolvimento profissional para clarear seu propósito e alinhar objetivos. Combinamos coaching, estratégias de carreira e autoconhecimento e outras metodologias, ajudando você a equilibrar significado e resultados concretos. Seja para redirecionar sua jornada ou fortalecer seu caminho atual, transformamos indecisões em ações assertivas. Consulte-nos.



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