Etarismo no Mercado de Trabalho: Um Problema Atual e uma Oportunidade Ignorada
- Mike Reis

- 9 de dez.
- 4 min de leitura
Etarismo, também chamado idadismo ou ageísmo, é o preconceito, estereótipo ou discriminação contra pessoas por causa da idade, podendo atingir tanto pessoas mais velhas quanto mais jovens. Manifesta-se quando a idade é usada para desqualificar capacidades, reduzir oportunidades ou desumanizar alguém, por exemplo ao supor que “é velho demais” ou “jovem demais” para estudar, liderar, trabalhar ou opinar.
O etarismo é muito visível no mercado de trabalho, em práticas como não contratar ou demitir pessoas mais velhas, ou considerar alguém jovem demais para cargos de liderança. Também aparece em ambientes de saúde, mídia, família e espaços educacionais, reforçando a ideia de que envelhecer é sinônimo de perda, inutilidade ou fragilidade, o que aumenta isolamento, depressão e até piora da saúde física.
Por que o Etarismo acontece?
O etarismo nasce de estereótipos que sugerem que profissionais mais velhos não acompanham as mudanças, possuem maior custo ou não se adaptam à cultura das empresas modernas. Isso ocorre também pela falta de políticas voltadas especificamente à diversidade etária, já que muitos debates corporativos focam apenas em gênero ou raça. Além disso, existe uma visão distorcida de que inovação depende exclusivamente de juventude, quando na verdade ela surge da combinação de diferentes perspectivas.
Como o Etarismo se manifesta nas Empresas
Recrutamento e Seleção
O etarismo aparece quando anúncios pedem “energia jovem”, estabelecem idade máxima ou usam expressões como “até 30 anos”. Também surge em devolutivas informais do tipo “o time é muito jovem para você” e na ausência de convites para entrevistas mesmo quando o candidato atende plenamente aos requisitos técnicos.
Desenvolvimento e Promoções
Profissionais mais velhos são excluídos de cursos, projetos estratégicos e oportunidades de promoção, sob a crença de que quem está perto da aposentadoria “não acompanha tecnologia”. Muitas vezes, a visibilidade é dada apenas aos mais jovens, reforçando a desigualdade.
Gestão do Dia a Dia
O problema continua na rotina, com comentários como “já passou da idade para isso” ou “chama o jovem para mexer com tecnologia”. Além disso, pessoas 50+ são deixadas fora de decisões relevantes ou eventos da equipe, o que reduz sua participação e influência.
Demissões, Salários e Contratos
Algumas empresas concentram programas de desligamento em profissionais mais antigos para “rejuvenescer o quadro”. Também mantêm trabalhadores maduros apenas em contratos frágeis ou temporários, evitando integrá-los em posições estratégicas de longo prazo.
Frases Comuns de Etarismo
Entre as expressões mais frequentes estão “vamos procurar alguém mais jovem, o cliente se identifica melhor” e “você é muito novo para liderar ou falar com a diretoria”. Essas práticas atingem tanto quem é considerado “velho demais” quanto quem é visto como “novo demais”, reforçando o ciclo de exclusão em ambos os extremos.
Etarismo em Processos de Trainee
Programas de trainee frequentemente limitam a participação a pessoas muito jovens, mesmo quando afirmam não ter esse critério. Essa prática exclui quem estudou mais tarde, mudou de área ou retomou a carreira após pausas — perfis totalmente preparados para funções iniciais.
Ao restringir idade, reforça-se a crença de que só jovens aprendem rápido ou têm potencial de crescimento. Avaliar competências em vez de idade torna esses programas mais inclusivos e forma líderes mais diversos e preparados.
Vantagens e Desafios ao contratar Profissionais mais Velhos
A contratação de profissionais mais velhos traz uma série de benefícios estratégicos. A experiência acumulada ao longo dos anos garante entregas mais maduras, seguras e autônomas, com menor margem de erro. Esses profissionais costumam apresentar maior estabilidade e comprometimento, o que reduz a rotatividade e os custos associados à troca constante de pessoal.
Sua visão estratégica, construída pela vivência prática, ajuda na tomada de decisões equilibradas, especialmente em momentos de crise. Além disso, inspiram confiança em clientes, equipes e parceiros, fortalecendo relações profissionais. A diversidade de idades também enriquece o ambiente de trabalho, estimula criatividade e promove uma integração mais rica entre gerações.
Os desafios corporativos atingem todas as idades e gerações, mas muitos candidatos ainda não se encaixam nessa realidade de forma geral — por isso é preciso atenção redobrada. Algumas empresas enfrentam desafios ao contratar profissionais mais velhos.
Em alguns casos, pode existir um descompasso com tecnologias recentes, exigindo treinamentos específicos. A adaptação a culturas corporativas muito jovens pode gerar estranhamento se a empresa não estiver preparada para integrar diferentes gerações.
Questões salariais também podem surgir quando as expectativas do candidato são superiores ao orçamento, embora isso varie bastante. Além disso, o preconceito interno e a falta de preparo das equipes podem dificultar a colaboração, deixando claro que a dificuldade está na cultura organizacional — não no profissional.
Como Combater o Etarismo nas Empresas
Combater o etarismo exige que as empresas revisem suas práticas de recrutamento e passem a avaliar competências, não idade. É essencial trabalhar vieses inconscientes, investir em capacitação contínua para profissionais de todas as idades e criar espaços de troca entre gerações, como mentorias reversas ou cruzadas.
Ao medir a diversidade etária e incluí-la nas metas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), as empresas passam a enxergar que a inclusão de profissionais mais velhos não é apenas um gesto social, mas uma estratégia de negócios que amplia resultados.
Conclusão
O etarismo prejudica empresas e profissionais, reduz competitividade e restringe a construção de equipes realmente diversas e inovadoras. Ao incluir pessoas de diferentes idades, as organizações ganham estabilidade, visão estratégica e uma combinação de habilidades que fortalece o desempenho geral. Valorizar profissionais mais velhos é uma decisão inteligente — e necessária — para qualquer empresa que busca resultados sustentáveis.
Podcast

Sugestão de leitura:
Etarismo: Um novo nome para um velho preconceito (Fran Winandy).



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